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quinta-feira, 16 de maio de 2013

Romantismo


ROMANTISMO

Movimento literário ao final do séc. XVIII da Alemanha e Inglaterra, passando pela França e depois por toda a Europa e América.
Falar em Romantismo é falar em subjetividade extrema, até então jamais vista em toda arte universal. Pode ocorrer em prosa ou poema.
Contexto histórico:
Disputas de poder e revoluções;
                Revolução francesa (transferência do absolutismo para o liberalismo);
                O público leitor do romantismo é a burguesia, devido a sua ascensão social;
                A literatura tem fundão de entretenimento;
                Liberdade passa a funcionar de ordem tanto politica, quanto social e literária.

Características:
Individualismo: uso da 1ª pessoa. Estava preocupado com que casa pessoa tinha em particular.
Emoção: supervalorização da emoção, em detrimento da razão. O individuo deixava se mostrar através da emoção.
Escapismo: a realidade nem sempre era desejada, com isso há o desejo de fuga da realidade. Pode ser na natureza, sonho ou morte, vida boemia etc.
Liberdade: como tema e estética, ou seja, temas livres e versos brancos. Aproximando a linguagem literária da linguagem popular.

"Quanto à forma... nenhuma ordem seguimos; exprimindo as ideias como elas se apresentam, para não destruir o acento da inspiração..."
Gonçalves de Magalhães – Romancista

Para o autor romântico o importante era a expressão dos seus sentimentos, da sua subjetividade, independentemente de qualquer forma pré-estabelecida.

Principais Temas do Romantismo:
- Nacionalismo: Uma volta ao passado histórico, volta às origens de cada povo e cada nação, busca dos grandes heróis e feitos. Em Portugal retomam os mitos dos cavaleiros e dos grandes heróis medievais. No Brasil, como não houve idade média, cria-se a figura do bom selvagem, ou seja, o índio passa a ser visto como esse nosso herói medieval. Ele é sempre bom, bonito e forte. Além disso, há uma exaltação da paisagem natural brasileira.
- Religiosidade: Geralmente o cristianismo.
- Idealização: do amor e da mulher. O amor passa a ser visto como sentimento essencial, como a mola propulsora de toda a vida. A mulher passa a ser vista como uma espécie de deusa, passa a ser divinizada, cultuada. Ela era sempre misteriosa e pura. A virgindade nesse período era muito valorizada, a maioria das heroínas românticas eram virgens. Apesar desse caráter angelical, também é encontrado em textos românticos um forte sensualismo.

Romantismo em Portugal:

Dá início a era literária moderna ou romântica. Tem inicio em 1825 com a publicação do poema Camões de Almeida Garret e permanece até 1865.
A partir das principais características românticas e da imensa variedade do tema o romantismo de Portugal divide-se em três grandes gerações ou momentos, que acontecem em todos os gêneros:
- 1º Momento: Autores ainda presos a certos valores neoclássicos, mas foram eles os responsáveis pela incorporação do novo estilo. AS duas grandes figuras são Almeida Garret e Alexandre Herculano;
- 2º Momento: Intensificação das características românticas, ou seja, essas características são levadas ao exagero. Esse Momento é chamado também de Ultrarromantismo. Soares de Passos e Camilo Castelo Branco são os poetas mais populares;
- 3º Momento: Prenuncio do realismo. Autores se distanciando das características românticas. Destacam-se João de Deus e Júlio Dinís.

Romantismo no Brasil:

Contexto Histórico: O romantismo brasileiro marca o inicio de uma verdadeira literatura nacional, está intimamente ligado ao processo de independência da colônia. Tem inicio em 1836 com a publicação da obra Suspiros Poéticos e Saudades de Gonçalves de Magalhães. Estende-se até 1881.
No Brasil produziu-se muito romantismo, dos mais variados gêneros, os principais foram:
- Poesia: Marcada pelo fenômeno das gerações.
- Romance: Que se destacou pela sua grande amplitude temática.
- Teatro: Conhecido por suas comédias.

Poesia do Romantismo Brasileiro

Gerações Românticas no Brasil: Só acontecem na Poesia
- Primeira, conhecida como Nacionalista / Indianista
- Segunda, conhecida como Ultrarromântica / Mal-do-século
- Terceira, conhecida como Social e Libertária / Condoreira
               
 Primeira geração: Nacionalista / Indianista: vão contar as belezas da terra natal e a figura do Índio.
Destaques: Gonçalves de Magalhães e Gonçalves Dias (destaca-se pela poesia indianista, I Juca Pirama [pronuncia-se Iuca Pirama, termo de origem indígena, significa aquele que vai morrer]). Canção do Exílio como exemplo.

Segunda, conhecida como Ultrarromântica / Mal-do-século: Características levadas ao exagero. A dor, angustia, morte, saudade da infância são temas constantes nesse 2º período.
Destaques: Álvares de Azevedo e Casimiro de Abreu (linguagem fácil). Todos os poetas dessa geração morreram antes dos 24 anos de idade.

Terceira, conhecida como Social e Libertária / Condoreira: Aprofundamento do nacionalismo. Geração conhecida como critica social libertária. Recebe esse nome por causa da ave Condor que consegue voar acima da Cordilheira dos Andes. Os poetas condoreiros tinham ideais tão elevados que podiam alcançar grandes alturas
Destaque: Castro Alves (temas sociais e amor erótico, denuncia das injustiças e repúdio pela escravatura).

Prosa do Romantismo

Cronologicamente o primeiro romance brasileiro foi O Filho do Pescador de Teixeira e Souza (1843), mas por sua trama confusa e pela ausência das principais características do romance romântico, costuma-se dizer que o primeiro romance brasileiro é o livro A Moreninha de Joaquim Manuel de Macedo (1844). Grande parte da população buscava na literatura uma forma de entretenimento, não havia TV, cinema etc. Nessa época há uma grande circulação dos folhetins (podem ser considerados os percussores da novela que conhecemos hoje).  Há várias classificações de romance romântico, optaremos por uma classificação temática:

Ambientação
Tipo de Romance (temática)
Corte (cidade)
Urbano
Província (interior)
Regionalista
Histórico
Indianista

O Romance Urbano retratava a sociedade da cidade. Encontramos nesses romances as descrições das grandes festas, dos saraus e dos passeios. Destacaram-se nessa temática: Joaquim Manuel de Macedo, José de Alencar e Manuel Antônio de Almeida.

O Romance Regionalista preocupava-se em mostrar uma identificação do homem com o ambiente físico. Os autores regionalistas buscam retratar em suas obras paisagens e espaços do Brasil que até então se mostravam livres do contato com o colonizador europeu. Destacam-se José de Alencar, Bernardo Guimarães, Visconde de Taunay e Franklin Távora.

No Romance Histórico encontram-se fortes traços da imaginação. Mas não é Histórico? Sim, mas a história servia apenas de gancho, um motivo para que o autor escrevesse, criasse sua estória. Destacam-se: José de Alencar e Visconde de Taunay.

O Romance Indianista é considerado o símbolo de todo esse período, de toda a prosa romântica. Nesse romance encontramos a retomada dos valores e belezas naturais, figura do índio como herói, sempre bom, bonito e forte. Destaca-se: José de Alencar.

Obras Pertinentes:
- Senhora, José de Alencar: Conta a estória de Aurélia e Fernando Seixas, dois apaixonados mais que acabam sofrendo por algumas complicações provocadas pelo dinheiro e indução.

 -Iracema, José de Alencar: Iracema significa lábios de mel e anagrama da palavra América. Iracema representa o encontro do colonizador europeu com a nova civilização. Conta à estória de amor Iracema e do jovem português Martim.

- A Moreninha, Joaquim Manuel de Macedo: Sua importância é devido ao livro ser o primeiro representante do romantismo.

- Memórias de um Sargento de Milícias, Manuel Antônio de Almeida: Obra inovadora que traz a figura de Leonardinho, um anti-herói.



domingo, 5 de maio de 2013

Parnasianismo



PARNASIANISMO

Movimento literário contemporâneo ao realismo e naturalismo brasileiro. É essencialmente poético, ou seja, não acontece na prosa. Surgido na França em meados do século XIX, em oposição ao romantismo. Apesar de ser contemporâneo ao realismo e naturalismo, o parnasianismo não apresenta as características dessas prosas, pelo contrário, apresenta características próprias bem marcantes. O termo parnasianismo deriva de Parnaso, um monte da Grécia que era habitado pelo deus Apolo e as musas. Parnasianismo é sinônimo de artificialismo.


CARACTERÍSTICAS GERAIS

1 Poesia Descritiva: Buscavam temas diretos. Falavam de objetos e cenas da natureza. O amor pelo objeto foi um certo fetiche desse período.
2 Impassibilidade: Ser contra ao sentimentalismo. O poeta parnasiano deveria ser objetivo, sem o exagero emocional do romantismo.
3 Esteticismo: Vem da palavra estética. Os parnasianos estavam preocupados com a forma, com a beleza de seus poemas. Ao contrário do romantismo que pregava os versos livres e brancos (sem rimas). Pregavam a arte pela arte, ou seja, a arte vale por si, não tem nenhum tipo de compromisso, só com a beleza.
Aspectos importantes para essa estética perfeita são:
3.1 Rimas Ricas: Quando obtidas com palavras para os quais só haja poucas rimas possíveis. Há uma ênfase das rimas do tipo ABAB para estrofes de quatro versos.
3.2 Valorização dos Sonetos: É dada preferência para os sonetos, composição dividida em duas estrofes de quatro versos, e duas estrofes de três versos. Revelando, no entanto, a "chave" do texto no último verso.
3.3 Metrificação Rigorosa: O número de sílabas poéticas deve ser o mesmo em cada verso, preferencialmente com dez (decassílabos) ou doze sílabas (versos alexandrinos), os mais utilizados no período. Ou apresentar uma simetria constante, exemplo: primeiro verso de dez sílabas, segundo de seis sílabas, terceiro de dez sílabas, quarto com seis sílabas, etc.
4 Retomada dos Modelos Clássicos: A antiguidade clássica é retomada por ser exemplo de perfeição e beleza. É bem comum os textos descreverem deuses, heróis, fatos lendários, personagens marcados na história e até mesmo objetos.
5 Cavalgamento ou encadeamento sintático (enjambement) - Processo poético de divisão do sentido de um verso, completado no verso seguinte. Tem como função priorizar a métrica e o conjunto de rimas. Como exemplo, este verso de Olavo Bilac:

E paramos de súbito na estrada
Da vida:// longos anos, presa à minha
A tua mão, // a vista deslumbrada
Tive da luz que teu olhar continha.//




PARNASIANISMO NO BRASIL

O parnasianismo foi muito importante no Brasil, devido a sua influência e o alto número de poetas. Mas o parnasianismo brasileiro não foi uma copia do francês, pois não obedece a mesma preocupação de objetividade, descrições realistas e cientificismo. É Contrário ao sentimentalismo romântico, mas não exclui o subjetivismo. Predomina o soneto e o verso alexandrino com rimas ricas.
O movimento teve origem com Luís Guimarães Júnior em 1880 e Teófilo Dias em 1882, mas firmou-se com Raimundo Correia (Sinfonias; 1883), Alberto de Oliveira (Meridionais; 1884) e Olavo Bilac (Poesias; 1888).

PRINCIPAIS AUTORES

Olavo Bilac: Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac (1865 – 1918) Estudou Medicina e Direito, mas abandonou ambos para se dedicar a Literatura. Foi o poeta popular, das estrelas, patriótico, do amor idealizado e carnal, e do pessimismo filosófico. Apesar de ser um dos poetas consagrados do parnasianismo Bilac nem sempre seguiu a risca as formalidades parnasianas. Vez ou outra se observa em seus textos certa valorização dos sentimentos que nos lembra do Romantismo.
Alberto de Oliveira: Antônio Mariano Alberto de Oliveira (1859 – 1937) cursou medicina e formou-se em farmácia. O mais parnasiano dos poetas seguiu a risca a ideologia parnasiana: poesia fria, descritiva, perfeição métrica. começou com a poesia romântica. Foi funcionário público e professor.
Raimundo Correia: Raimundo da Mota Azevedo Correia (1860-1911) formou-se em Direito e foi magistrado e diplomata. Considerado o poeta neorromântico, tom pessimista, reflexivo, filosófico. Aproximou-se do Simbolismo pela sua poesia amargurada e intensa.

Referencias:

Em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/parnasianismo>. Acesso em 29 abril 2013.

BALDACINE, Otoniela. Movimentos Literários. Em: <http://miniweb.com.br/literatura/artigos/movimentos_literarios.pdf>. Acesso em 29 abril 2013.

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO

1 - (FEI-SP) Leia com atenção:
 “O objetivo da “arte pela arte” é o Belo, a criação da beleza pelo uso perfeito dos recursos artísticos; nesse sentido, levaram ao exagero o culto do ritmo, da rima e do vocabulário”;
“A partir de 1883, este movimento se define na Literatura Brasileira, sobretudo com os versos de Alberto de Oliveira, Raimundo Correia e Olavo Bilac”.
Assinale a alternativa que indica o movimento de que tratam os fragmentos acima:
a – Modernismo
b – Parnasianismo
c – Concretismo
d – Simbolismo
e – Naturalismo

2 - (Uneb – BA) São características parnasianas:
a – perfeição formal, preciosismo linguístico, objetivismo e desprezo pela arte útil.
b – preocupação excessiva com a forma, análise determinista do homem, subjetivismo e universalismo.
c – desprezo pela forma requintada, preocupação político-social, objetivismo e individualismo.
d – forma requintada, “arte-sugestão”, subjetivismo exacerbado e análise psicológica do homem.
e  impassibilidade (distanciamento das emoções), “poesia científica”, pessoalidade e tematização da natureza.

3 - Tendo em vista as características que nortearam a estética parnasianista, leia atentamente o poema que segue e depois o analise, procurando evidenciar tais pressupostos por meio de exemplos extraídos do próprio poema:

Vaso Chinês
Estranho mimo aquele vaso! Vi-o,
Casualmente, uma vez, de um perfumado
Contador sobre o mármor luzidio,
Entre um leque e o começo de um bordado.
Fino artista chinês, enamorado,
Nele pusera o coração doentio
Em rubras flores de um sutil lavrado,
Na tinta ardente, de um calor sombrio.
Mas, talvez por contraste à desventura,
Quem o sabe?... de um velho mandarim
Também lá estava a singular figura.
Que arte em pintá-la! A gente acaso vendo-a,
Sentia um não sei quê com aquele chim
De olhos cortados à feição de amêndoa.
Alberto de Oliveira

4 - “A cavalgada” é uma criação artística de Raimundo Correia – representante parnasiano. Eis então que abaixo se encontra demarcado o poema em questão, cuja intenção é fazer com que você o analise, destacando, pois, as impressões voltadas para as características parnasianistas:

A Cavalgada
A lua banha a solitária estrada...
Silêncio!... Mas além, confuso e brando,
O som longínquo vem-se aproximando
Do galopar de estranha cavalgada.
São fidalgos que voltam da caçada;
Vêm alegres, vêm rindo, vêm cantando.
E as trompas a soar vão agitando
O remanso da noite embalsamada...
E o bosque estala, move-se, estremece...
Da cavalgada o estrépito que aumenta
Perde-se após no centro da montanha...
E o silêncio outra vez soturno desce...
E límpida, sem mácula, alvacenta
A lua a estrada solitária banha...

Respostas

Resposta Questão 1
Atesta-se como verdadeira a alternativa demarcada pela letra “A”, haja vista que as características nela ressaltadas se encaixam perfeitamente à era em evidência – Parnasianismo. Dessa forma, enquanto que os representantes dos demais estilos de época, preocupando-se mais com o conteúdo, com a temática propriamente dita, encontravam em tal posicionamento uma forma de expressar a visão, a ideologia que mantinham frente à realidade que os cercava, os representantes parnasianos cultuavam a “arte pela arte”, ou seja, captavam a realidade de uma forma absolutamente neutra, longe de quaisquer preocupações de ordem social ou crítica.
Não menos relevante se evidenciavam o preciosismo linguístico e o objetivismo, visto que a “forma” representava a força-motriz de tais representantes, os quais valorizavam, acima de tudo, a composição impecável e rima perfeita, o que equivale dizer que a linguagem não ficava aquém de tais intenções, sendo essa envolta por um preciosismo implacável, constituída por um vocabulário altamente requintado.

Resposta Questão 2
As impressões por ele captadas, sobretudo no que diz respeito à forma, evidenciam-se por uma forma bastante cultuada na Antiguidade Clássica: o soneto. Quanto à disposição das rimas, notadamente se figuram as rimas interpoladas, representadas por meio dos seguintes versos:
A lua banha a solitária estrada... (a).
Silêncio!... Mas além, confuso e brando,(b)
O som longínquo vem-se aproximando(b)
Do galopar de estranha cavalgada. (a)
Quanto à questão da temática, elemento deixado em segundo plano por todos os representantes da estética em questão, percebemos o estilo do autor em preconizar a objetividade constante – característica essa de cunho relevante na época em pauta. Tal objetividade se manifesta em função do distanciar entre o eu lírico e a matéria poética propriamente dita, aqui transcrita como uma espécie de descrição no que tange às impressões captadas pelo poeta em relação à realidade que o cerca, manifestada pela mais nítida impassibilidade.

Resposta Questão 3
Ao analisarmos o poema em questão, sobretudo no que se refere à estética, constatamos, evidentemente, que se trata de um soneto, composto por dois quartetos (estrofes com quatro versos) e dois tercetos (estrofes com três versos). Aspecto esse que simbolizou uma das principais características da estética em questão – o retorno aos moldes clássicos, mais precisamente à Antiguidade clássica. Outro aspecto, que também demonstra essa preocupação com o culto à forma, diz respeito à posição das rimas, uma vez dispostas de forma cruzada, com bem nos demonstra os versos:
Fino artista chinês, enamorado,(a)
Nele pusera o coração doentio (b)
Em rubras flores de um sutil lavrado, (a)
Na tinta ardente, de um calor sombrio. (b)
Bem ao gosto parnasianista, temos a linguagem, uma vez representada no poema como uma espécie de trabalho de ourivesaria, adornada, trabalhada, rica, voltada para um intenso preciosismo linguístico. O fato de a poesia não expressar nenhuma representatividade para o poeta, ele mesmo, dotado de uma impassibilidade nítida, parece se mostrar alheio, neutro à realidade a qual pinta, mesmo porque faz uso de um objeto (ora representado pelo vaso) para representar uma visão acerca do universo propriamente dito, aspecto esse materializado por meio dos seguintes versos:
Estranho mimo aquele vaso! Vi-o,
Casualmente, uma vez, de um perfumado
Contador sobre o mármor luzidio,
Entre um leque e o começo de um bordado.

Resposta Questão 4
Infere-se como adequadas as informações prestadas na letra “B”, pois tal estilo de época (Parnasianismo) representou uma escola literária voltada para o culto à forma, preconizando a rima, os valores clássicos, a linguagem rebuscada, voltada, sobretudo, para um intenso preciosismo, entre outros aspectos. Acerca dos representantes, torna-se inegável que as afirmações em evidência tão bem os pontuaram, são eles: Raimundo Correia, Alberto de Oliveira e Olavo Bilac.

Noite na Taverna - Resumo



Noite na Taverna
Uma análise Crítica do livro Noite na Taverna.
Álvares de azevedo
Manuel Antonio Álvares de Azevedo nasceu em São Paulo a 12 de setembro de 1831, filho do então estudante de Direito Inácio Manuel Álvares de Azevedo e de Maria Luisa Mota Azevedo, ambos de famílias ilustres. Segundo afirmação de alguns de seus biógrafos, teria nascido na sala da biblioteca da Faculdade de Direito de São Paulo; averiguou-se, porém, ter sido na casa do avô materno, Severo Mota. Escritor e poeta romântico foi em tudo coerente com as opções estéticas do Romantismo: foi genial, culto, precoce e construiu uma obra pequena, porém clássica, dentro da Língua Portuguesa, morrendo, provavelmente, de complicações da tuberculose, aos vinte e um anos incompletos.

A noite na Taverna 
Noite na Taverna é uma coletânea de narrativas construída em sete partes. Traz epígrafes e usa os nomes de cada um dos narradores como subtítulos, antecedendo as histórias. Constitui a mais original produção em prosa de Álvares de Azevedo e insere-se perfeitamente no clima romântico byroniano, refletindo também as influências deixadas no autor pela leitura das novelas mórbidas do século XIX. Os capítulos de Noite na Taverna são Uma Noite do Século, Solfieri, Bertram, Gennaro, Claudius Hermann, Johann e Último Beijo de Amor.

Uma noite do Século
Uma espécie de introdução apresentando o ambiente da taverna, a roda de bebedeira e de devassidão em que se encontram os personagens e o tom notívago e vampiresco em que se desenrolarão os fatos narrados.
Bertram, Archibald, Solfieri, Johann, Arnold e os outros companheiros estão na taverna, dialogando sobre loucuras noturnas, enquanto as mulheres dormem ébria sobre as mesas. Falam das noites passadas em embriaguez e pura orgia. Solfieri os questiona a respeito da imortalidade da alma, e parece não crer nela. Por isso, Archibald o censura pelo materialismo. Solfieri acredita na libertinagem, na bebida e na mulher sobre o colo do amado. Os homens só se voltam para Deus quando estão próximos da morte. Deus é, pois, a “utopia do bem absoluto”.
Silêncio, moço! Acabai com essas cantilenas horríveis! Não vedes que as mulheres dormem ébrias, macilentas como defuntos? Não sentis que o sono da embriaguez pesa negro naquelas pálpebras onde a beleza sigilou os olhares da volúpia?
Cala-te, Johann! Enquanto as mulheres dormem e Arnold - o loiro - cambaleia e adormece murmurando as canções de orgia de Tieck, que música mais bela que o alarido da saturnal? Quando as nuvens correm negras no céu como um bando de corvos errantes, e a lua desmaia sobre a alvura de uma beleza que dorme, que melhor noite que a passada ao reflexo das taças?
És um louco, Bertram? Não é a lua que lá vai macilenta: é o relâmpago que passa e ri de escárnio às agonias do povo que morrem aos soluços que seguem as mortualhas do cólera.
As primeiras páginas deixam antever o clima da geração do mal do século, a irreverência incontida, a tendência às divagações literário-filosóficas, a vivência sôfrega e, principalmente,a morbidez e a lascívia.
Estás ébrio, Johann! O ateísmo é a insânia como o idealismo místico de Schelling, o panteísmo de Spinoza - o judeu, e o histerismo crente de Malebranche nos seus sonhos da visão de Deus. A  verdadeira filosofia é o epicurismo. Hume bem o disse: o fim do homem é o prazer. Daí vede que é o elemento sensível uem domina.E pois, ergamo-nos, nós que amarelecemos nas noites desbotadas de estudo insano, e vimos que a ciência é falsa e esquiva, que ela mente e embriaga como um beijo de mulher.
A vivência que o escritor demonstra é mais cultural que real, daí buscar constantemente o reforço nas idéias de filósofos e literatos, reflexo do impacto de suas diversas leituras.

Solfieri 
Relata uma viagem a Roma, a “cidade do fanatismo e da perdição, onde na alcova do sacerdote dorme a gosto a amásia, no leito da vendida se pendura o crucifixo lívido”. Certa noite, Solfieri vê um vulto de mulher. Segue-a até um cemitério; o vulto desaparece e ele adormece sob o frio da noite e  umidade da chuva. A visão desse vulto atordoa o personagem durante um ano. Nem o amor o satisfaz mais. Uma noite, após prolongada orgia, sai vagando pelas ruas e acaba “entre as luzes de quatro círios que iluminavam um caixão entreaberto.” Lá estava a mulher que lhe provocara tantas alucinações e insônias Era agora uma defunta. Toma o cadáver em seus braços, despe-lhe o véu e faz sexo com ela. A mulher, no entanto, não estava morta, apenas sofrera um ataque de catalepsia. Solfieri leva-a então para seu leito. Depois de dois dias de delírio, ela morre realmente. Solfieri chama um escultor e manda fazer uma estátua de cera da mulher profanada, guardando-a em seu quarto. Conserva para sempre, junto ao peito, uma grinalda de flores, lembrança do caixão da defunta.


Bertram
Bertram, um dinamarquês ruivo, de olhos verdes, conta que, também uma mulher, Ângela, o levou à bebida e a duelar com seus três melhores amigos e a enterrá-los. Quando decide casar com ela e consegue lhe dar o primeiro beijo, recebe carta do pai, pedindo seu retorna à Dinamarca. Encontra o velho já moribundo. Chora, mas por saudade de Ângela. Dois anos depois, volta para a Espanha. Encontra a moça casada e mãe de um filho. A paixão persiste e os amantes passam a se encontrar às escondidas, até que o marido, enciumado, descobre tudo. Uma noite, Ângela, com a mão ensangüentada, pede ao rapaz para subir até sua casa e por entre a penumbra, ele encontra o marido degolado e sobre seu peito, o filho de bruços, sangrando. Saem pelo mundo em grandes orgias. Ela foge mais tarde, deixando Bertram entregue às paixões e vícios. Bêbado e ferido, é atropelado por uma carruagem. É socorrido por um velho fidalgo, pai de uma bela menina que, mais tarde, foge para casar-se com Bertram.

Ele a vende em uma mesa de jogo a Siegfried, o pirata. Ela mata Siegfried, afogando-se em seguida. De dissipação em dissipação, o rapaz resolve matar-se no mar da Itália, mas é salvo por marinheiros, fica sabendo que a pessoa que o salvou foi, acidentalmente, morta por ele. São socorridos por um navio e Bertram é aceito a bordo em troca de que combatesse, se necessário. Mas apaixona-se pela pálida mulher do comandante e, durante uma batalha, ele o trai, tomando-lhe a mulher. O navio encalha em um banco de areia, despedaçando-se - os náufragos agarram-se a uma jangada e, em meio à tempestade, vagam pelo mar as três figuras (o comandante, a mulher e Bertram), sobrevivendo de bolachas e, mais tarde, tiram a sorte para ver quem morrerá para servir de alimento para os outros. O comandante perde, clama por piedade, mas Bertram se nega a ouvi-lo, prefere a luta. Mata o comandante, que serve por dois dias de alimento à Bertram e à mulher. Ele propõe morrerem juntos, ele aceita. O casal gasta as últimas energias no amor. A mulher, enlouquecida, começa a gargalhar. Bertram a mata. Alimenta-se dela também. Depois, é salvo por um navio inglês.

Gennaro  
Gennaro conta que entrou como aprendiz do velho pintor Godofredo Walsh, casado em segundas núpcias com Nauza, uma jovem de vinte anos, que lhe servia de modelo. Com Godofredo, vive também Laura, de quinze anos, filha de seu primeiro casamento. Gennaro seduz Laura, que durante três meses freqüenta o quarto do rapaz. Grávida, ela implora para que ele a peça em casamento. Ele recusa porque se apaixonara por Nauza, a esposa do pintor. Laura enfraquece.
Uma noite... foi horrível...vieram chamar-me: Laura morria. Na febre murmurava meu nome e palavras que ninguém podia reter, tão apressadas e confusas soavam. Entrei no quarto dela: a doente conheceu-me. Ergueu-se branca, com a face úmida de um suor copioso: chamou-me. Sentei-me junto ao leito dele. Apertou minha mão nas suas mãos frias e murmurou em meu ouvido:- Gennaro, eu te perdôo: eu te perdôo tudo...Eras um infame...Morrerei...Fui uma louca...Morrerei por tua causa...teu filhos...o meu...vou vê-lo ainda...mas no céu...meu filho que matei...antes de nascer...
Gennaro torna-se amante de Nauza. Certa noite fria e escura saíram o mestre e o aprendiz. Godofredo pôs-se a contar uma história (a real) de sua vida, expondo o conhecimento que tinha dos fatos, sabendo que Gennaro fora amante da filha e agora é amante da mulher. Musculoso e forte, Godofredo prostrou Gennaro, que caiu em um despenhadeiro. Só não morreu porque ficou preso em uma árvore. Após um dia e uma noite de delírios, acordou na casa de camponeses que o haviam socorrido e, logo que sarou, partiu. Encontrou no caminho o punhal com que o mestre tentara matá-lo. Munido da arma, procurou a casa de Godofredo, que parecia abandonada. Entrou pelos quartos escuros, tateando até a sala do pintor. Encontrando-a vazia, dirigiu-se ao quarto de Nauza e encontrou-a morta, envenenada pelo marido, que jazia morto também e de sua boca “corria uma escuma esverdeada.”

Claudius Hermann
Viciado em jogo, Claudius Hermann chegou a apostar toda a sua fortuna. Em uma das corridas, viu uma mulher passar a cavalo. Tal foi o fascínio que a dama exerceu sobre ele, que, quase com obsessão, persegui-a. Descobriu que a mulher misteriosa era a duquesa Eleonora. Um dia, encorajado, abordou-a. Eleonora era casada. Uma noite, após um baile, aproveitou-se do cansaço e sonolência da mulher e, com a chave comprada de um criado, entrou em seu quarto e lhe deu um narcótico misturado ao vinho. Em seguida, seduziu-a.
Uma semana se passou assim: todas as noites eu bebia nos lábios da dormida um século de gozo. Um mês delirantes iam aos bailes do entrudo, em que mais cheia de febre ela adormecia quente, com as faces em fogo...
O marido, o belo e jovem Maffio, uma noite prometeu visitá-la em seu leito. O amante, corroído de ciúme, resolveu fugir com a mulher. Após ministrar-lhe o narcótico, saiu com a inconsciente pelos corredores, e partiram de carruagem. Ao acordar, Eleonora percebeu que estava em um local estranho com um desconhecido. Ficou desesperada. Claudius decidiu revelar-lhe o segredo. A mulher argumentou ser impossível amá-lo, ele contra-argumentou dizendo-lhe não ser possível a vida dela nos padrões da normalidade, uma vez que estava desonrada. Ninguém a perdoaria. Eleonora, então, concorda em viver com ele.
(...) um dia Claudius entrou em casa. Encontrou o leito ensopado de sangue e num recanto escuro da alcova um doido abraçado com um cadáver. O cadáver era o de Eleonora: o doido n em o poderíeis conhecer tanto a agonia o desfigurava. Era uma cabeça hirta e desgrenhada, uma tez esverdeada, uns olhos fundos e baços onde o lume da insânia cintilava a furto, como a emanação luminosa dos puis entre as trevas... Mas ele o conheceu...era o Duque Maffio.


Johann
O cenário é Paris. Johann e Artur jogavam num bilhar. Ao faltar um ponto para Artur ganhar e ao narrador muitos, houve um desvio da bola e Johann exaltou-se, provocando o adversário para um duelo de morte. Artur aceitou, mas antes de partirem para a morte, escreveu algumas linhas e pediu para Johann entregá-las juntamente com um anel, caso viesse a ser a a vítima. No duelo morreu Artur. Johann, como havia prometido, tirou o anel do defunto, recolheu dois bilhetes. O primeiro era uma carta para a mãe; o segundo continha apenas um endereço e um horário. A assinatura era apenas um G. Johann foi ao encontro. “Era escuro. Tinha no dedo o anel que trouxera do morto... Senti uma mãozinha acetinada tomar-me pela mão... subi. A porta fechou-se.”
Ele seduziu a virgem. Ao sair, topou com um vulto à porta, voz levemente familiar. Desceu as escadas e sentiu uma lâmina resvalar-lhe os ombros. Uma luta terrível foi travada e houve mais um assassinato.
Ao sair tropecei num objeto sonoro. Abaixei-me para ver o que era. Era uma lanterna furta-fogo. Quis ver quem era o homem. Ergui a lâmpada... O último clarão dela banhou a cabeça do defunto...a apagou-se...Eu não podia crer: era um sonho fantástico toda aquela noite. Arrastei o cadáver pelos ombros... Levei-o pela laje da calçada até o lampião da rua, levantei-lhe os cabelos ensangüentados do rosto (...) Aquele homem - sabei-o!? era do sangue do meu sangue, filho das entranhas de minha mãe como eu...era meu irmão. Mas a desgraça maior ainda estava por ser revelada: Johann havia possuído sua própria irmã.

Último Beijo de amor
A noite ia alta e a orgia findara, os convivas dormiam embriagados. Entrou na taverna uma mulher vestida de negro, procurando um rosto conhecido. Quando a luz bateu em Arnold, a mulher ajoelhou-se, em seguida ergueu-se, dirigindo-se a Johann.
 (...) A fronte da mulher pendeu e sua mão pousou na garganta dele. Um soluço rouco e sufocado ofegou daí. A desconhecida levantou-se. Tremia; ao segurar na lanterna ressoou-lhe na mão um ferro...era um punhal...Atirou-o no chão. Viu que tinha as mãos vermelhas, enxugou-as nos longos cabelos de Johann.

Voltando-se para Arnold, fez-se reconhecer. Era Geórgia que voltava, depois de cinco anos. Arnold pediu que o chamasse como antes - Artur - e pede-lhe beijos, enquanto ambos lamentam a sorte. A mulher somente vinha para dizer-lhe adeus e depois fecharia a porta de sua própria sepultura. Confessa a morte de Johann para vingar-se daquele que a levou a prostituir-se. Geórgia prostituta vingou nele Geórgia - a virgem. Esse homem foi quem a desonrou, desonrou-a a ela que era sua irmã.

Estrutura Narrativa de Noite na Taverna
No final da peça Macário, Álvares de Azevedo apresenta a personagem título aproximando-se de uma janela e observando, dentro de uma taverna, vários jovens conversando. Assim, na verdade, inicia-se o livro A Noite na Taverna. Seu começo é encadeado à peça, mas não se trata de um texto dramatúrgico. É um livro de narrativas curta em prosa, e não teatro. A obra é estruturada em abismo. Cada capítulo é uma história contada dentro de outra história. São, portanto, contos ligados através da estrutura conhecida como moldura narrativa - uma narrativa geral une todas as outras. Tal recurso, conhecido também como contos enquadrados, remete às mais antigas coletâneas de contos da literatura universal, como As Mil e Uma Noites, o Decameron, de Bocaccio e os Contos de Canterbury, de Chaucer.
Em Noite na Taverna, cada conto tem um narrador diferente. Cada um dos homens conta a sua história medonha, afirmando que “não é um conto, é uma lembrança do passado”. Afirmações como essa são típicas do Romantismo. Procuram, assim, estabelecer a veracidade de textos bastante inverossímeis, histórias fantásticas, impossíveis de acontecer na realidade. Os homens reunidos na taverna procuram impressionar seus ouvintes, acrescentando detalhes cada vez mais imaginativos, macabros e chocantes a seus relatos amorosos, ditos pessoais e verídicos. Antônio Cândido explica que, em Álvares de Azevedo,  “elementos macabros estariam compondo com estes, de maneira peculiar, o par romântico Amor e Morte.”
A obra está dividida em dois planos: uma narrativa externa, que apresenta os rapazes já bêbados na taverna e prestes a contar cada um sua história, e as várias narrativas internas ou aventuras apresentadas - os contos são nomeados segundo o nome daquele que os narra e também protagoniza - Solfieri, Bertram, Gennaro, Claudius Hermann e Johann, diferenciando-se desse esquema a introdução e a finalização, chamadas respectivamente Uma Noite do Século  e Último Beijo de Amor.

Temática da obra
Os contos giram em torno dos temas do amor e da morte, que são relacionados pela presença de momentos de necrofilia, incesto, assassinatos, canibalismo, loucuras várias. Assim, o amor está sempre na fronteira com a morte e a sexualidade se reveste de culpas e punições. O tema não envereda, de fato, pela senda do sobrenatural, mas sim pelo extravagante e hiperbólico. Necrofilia, catalepsia, amor obsessivo, infanticídio, assassinato do esposo, ingratidão, aborto, adultério, sonambulismo, suicídio, emprego de narcótico como recurso amoroso, incesto e fratricídio são as matérias primas para as histórias contadas pelos personagens. E tudo isso, precedido por um vivo debate filosófico.
Capítulo 1- A temática desenvolvida aqui é a oposição entre a imortalidade/mortalidade da alma, a afirmação do prazer versus a negação do prazer, a existência de Deus versus a inexistência de Deus. Daí o autor colecionar uma série muito grande de citações filosóficas, que remtem para um ou outro dos temas, deixando o leitor suspenso entre dois termos.
Capítulo 2 - O tema é a necrofilia, a morte, a catalepsia e o amor obsessivo.
Capítulo 3 - O amor obsessivo, o adultério, o ciúme, o assassinato do marido, a miséria de uma vida desregrada e o amor exclusivamente carnal que logo finda constituem-se na temática deste capítulo.
Capítulo 4 - A temática é o desencontro, a ingratidão, o aborto, o adultério, o sonambulismo, o a amor obsessivo, o suicídio e o arrependimento.
Capítulo 5 - Traz uma simetria interessante entre a conduta do personagem Claudius Hermann e a do Duque Maffio.  temática deste capítulo é o amor obsessivo e a perversão sexual.
Capítulo 6 - Os temas são o incesto e o fratricídio.
Capítulo 7 - A temática do último capítulo é a vingança do destino, a fatalidade da ignorância e o suicídio.
Ao longo de Noite na Taverna são introduzidos, na literatura brasileira, temas relacionados ao fantástico e ao macabro. No todo, predomina a intenção de fugir da realidade na bebida e na fantasia. Os personagens estão saturados de extrema melancolia e pessimismo, características dominantes do Ultra-Romantismo, no qual os autores se preocupavam em descrever paisagens sombrias e acontecimentos misteriosos.

Recursos de Expressão 
Ao longo de Noite na Taverna, Álvares de Azevedo emprega diversos recursos expressivos. Entre eles, destacam-se os diálogos intertextuais. O autor dialoga com autores e textos vários, os quais demonstra conhecer profundamente.
Na primeira parte da obra, o autor faz referências às canções de Tieck, à filosofia de Fichte, Shelling, Epicuro, Hume, Spinoza e de Schiller. Refere-se à poesia épica de Homero: “(...)aí, há folhas inspiradas pela natureza ardente daquela terra como nem Homero as sonhou (...)”. E à literatura de Hoffmann: “(...) uma história sanguinolenta, um daqueles contos fantásticos - como Hoffmann (...)”.
A parte 3 também é recheada de diálogos entre o autor e outros autores e/ou obras, tais como o Otelo, de Shakespeare, a novela Dom Juan, Dante, Byron, o Fausto, de Goethe, o Hamlet, de Shakespeare e o poeta português Bocage. O próprio nome do livro, a ação dos personagens dialogando em uma taverna, pode ser uma referência direta à vida e obra do poeta português. Álvares de Azevedo interage com a Bíblia:
(“...) como Satã quarenta séculos depois fez a Cristo e disse-lhe: Vê, tudo isso é belo-vales, montanhas, águas do mar que espumam folhas das florestas que tremem e sussurram como as asas dos meus anjos - tudo isso é teu...”
A parte 6 parece toda inspirada na tragédia Édipo Rei. Sem ter conhecimento, Édipo mata o pai e se casa com a mãe; por ignorância, Johann torna-se amante da irmã e mata o irmão. Quando toma conhecimento do infortúnio, Édipo vaza os próprios olhos, o que de certa maneira, faz Johann ao transformar-se em um ébrio para esquecer seu destino. Por fim, ambos sofrem por não darem atenção à lição do oráculo de Delfos: conhece-te a ti mesmo.

Protagonistas
Os protagonistas ou personagens principais de Noite na Taverna são, basicamente, os jovens Solfieri, Bertram, Gennaro, Claudius Hermann, Johann e Artur que se encontram reunidos na taverna. Além deles, Geórgia, que reaparecendo já no final do livro, acrescenta uma nota de plausibilidade às histórias narradas. Todos os protagonistas são do tipo anti-herói, pois que, mesmo em posição de herói pelas coisas que contam, mostram-se iguais ou inferiores aos outros componentes do grupo. Ou são vítimas da adversidade ou são presas de seus próprios defeitos de caráter.

Personagens Secundários
Os personagens secundários vão sendo introduzidos no enredo através das narrativas dos convivas, com exceção da taverneira, do velho que interrompe Bertram e de Geórgia, que participam da ação na taverna. Assim, temos a moça do cemitério, o guarda, o ébrio, o ébrio, os companheiros, o escultor. Ângela, o pai de Bertram, o esposo de Ângela, o filho de Ângela, o velho nobre, a filha do nobre, o pirata Siegfried, o homem que tenta salvá-lo e é morto, a amante do velho que interrompe a narrativa, o dono do cérebro que preencheu a caveira exibida pelo velho, o capitão da corveta, a esposa do capitão, os marinheiros, os piratas do barco que ataca a corveta. Godofredo Walsh, Laura, Nauza, a velha da cabana, os camponeses. Eleonora, o criado venal, o Duque Maffio, a dona da estalagem, os amigos no bilhar, a mãe de Artur, G. (irmã), o desconhecido (irmão).
A falta de indicação de nome e caracterização dos personagens secundários confere aos personagens principais um individualismo acentuado. É como se eles não tivesses suas próprias vidas, existindo apenas em função dos narradores.Pode-se perceber que, quase sempre, os personagens secundários são planos, pois que caracterizados, no máximo, com um pequeno número de atributos.Comumente, são personagens plano tipo, isto é, personagens reconhecidos apenas por determinado acento invariável, como por exemplo, o guarda, o escultor, etc.


Caracterização dos Personagens
SOLFIERI - Um jovem boêmio, alcoólatra, persistente, pois que faz de tudo para alcançar o amor da mulher.
A MULHER AMADA POR SOLFIERI - Era como um anjo para ele, uma pessoa que sofria de catalepsia e depressão.
BERTRAM - Ruivo, de pele branca e olhos verdes. Alcoólatra e boêmio. Influenciado pela amada, muda seu jeito de ser, transformando-se em um ser obscuro e viciado, provocando a própria decadência.
ÂNGELA - Morena andaluza, calma e pura na visão de Bertram. No decorrer da história, mostra seu lado agressivo e malévolo.
A MULHER DO COMANDANTE - Branca, melancólica, triste e carente. Era pura, mas no desenvolvimento da trama, mostra seu lado infiel.
O COMANDANTE - Um homem bonito, com rosto rosado, de cabelos crespos e loiros, valente e brutal, mas um bom marido.
GENNARO - Um pintor bonito quando jovem, puro, pensativo e melancólico. Cínico e despreocupado acerca dos sentimentos alheios. Devotado à Nauza.
LAURA - Filha de Godofredo do primeiro casamento. Pálida, de cabelos castanhos e olhos azuis. Amava Gennaro, de uma forma pura e sem malícia.
GODOFREDO WALSH - Professor de pintura de Gennaro. Era robusto, alto e forte. Agia por impulso, vingativo.
NAUZA - Jovem e bonita, era a mulher de Godofredo. Carente, encontrava carinho nos braços de Gennaro.
CLAUDIUS HERMANN - Muito rico, não se importava com a desonra nem com o adultério. Só pensava na amada Eleonora.
A DUQUESA ELEONORA - Bela, pura e vaidosa. Pele alva e cabelos negros. Amava o marido, mas resolve fugir com Claudius porque não queria ser acusada de adultério pela sociedade que tanto prezava.
O DUQUE MAFFIO - Marido de Eleonora. Amava-a tanto que foi levado ao assassinato e ao suicídio.
JOHANN - Jovem boêmio, obsessivo, curioso e nervoso. Desonra a própria irmã e mata o irmão sem o saber.
ARTUR OU ARNOLD - Loiro, de feições delicadas, possuía o rosto oval e faces avermelhadas. Amava muito Geórgia.
GEÓRGIA - Irmã de Johann. Pura, inocente e apaixonada. No decorrer da história, entrega-se para o irmão, pensando que ele era o amado. Volta, no final, para vingar-se.
O IRMÃO DE JOHANN - Protetor, tenta matar o homem que desonrou a irmã.

Tempo
O texto apresenta basicamente, três tempos:
1) A conversa entre os convivas, na taverna, ocorre no presente, tempo que predomina nos capítulos 1 e 7;
2) As histórias contadas pelos rapazes situam-se no passado, que predomina nos capítulos 2, 3, 4, 5 e 6, se bem que no início, durante e no fim de cada narrativa, os personagens retornam rapidamente para a taverna. A interação dos tempos (presente, passado e presente do passado) produz no leitor a impressão de estar se movendo  em um mundo estranho, mágico, no qual acaba sendo introduzido, ao sabor da narrativa;
3) Os diálogos existentes em todas as narrativas conferem atualidade às histórias narradas pelos personagens principais.
A única referência histórica que dá uma vaga noção de localização cronológica do encontro na taverna está presente no relato do velho que interrompe a narrativa de Bertram: (...) e banhei minha fronte juvenil nos últimos raios de sol da águia de Waterloo - Apertei ao fogo da batalha a mão do homem do século. Assim, o velho seria jovem em 18 de junho de 1815, quando Napoleão enfrentava o Duque de Wellington, em Waterloo. Em razão desta referência, pode-se situar o encontro fictício na taverna mais ou menor na época em que o texto foi escrito.
No livro de Álvares de Azevedo, nada há de seguro ou definitivo em relação ao tempo. Datas, épocas ou duração dos fatos são apenas superficialmente sugeridos. Foi escrito tanto em tempo cronológico quanto em tempo psicológico. O tempo que decorre dentro da taverna é real: (...)Cala-te,Johann! Enquanto as mulheres dormem(...) Ocorre o que chamamos de flash back. A partir do momento em que os jovens começam a contar suas histórias, eles mergulham nas lembranças do passado e o tempo passa a ser psicológico: Era em Roma. Uma noite a lua ia bela como vai ela no verão(...) No decorrer do enredo, há uma alternância entre passado, presente e futuro, tempo real e tempo psicológico. Quando um personagem faz sua narrativa, retorna, uma vez ou outra, ao ambiente da taverna, não permanecendo sempre no tempo psicológico.

Espaço 
Espaço é o local onde se passa a ação. É ele que dá conta do lugar físico onde ocorrem os fatos. Se a ação for concentrada, com poucos fatos narrados ou quando o enredo é psicológico, haverá menos variedade de espaços. Em Noite na Taverna, muito ao contrário, tem-se uma narrativa cheia de peripécias, com grande afluência de espaços diferentes.
De início, o espaço é a própria taverna, onde o diálogo é travado. A medida que se desenvolve a trama e as histórias de cada um vão sendo contadas, temos como espaço da narrativa: o palácio, o cemitério, a igreja, a ponte e as ruas da cidade; a casa, o quarto da casa (Solfieri); a casa do pai, o jardim da casa de Ângela, a casa dela, diversos locais pelos quais viajam juntos (não especificados), o palácio do nobre, o local onde joga com o pirata Siegfried (não especificado), o rochedo de onde salta para a morte, os diversos locais citados pelo velho que interrompe o narrador (Waterloo, Bélgica, taverna em Portugal, túmulo de Dante na Itália, Grécia e outros não especificados), a corveta, o mar, a cabine do comandante (sugerida), o navio pirata, a jangada e o brigue inglês Swalow (Bertram); a casa do mestre, o quarto de Gennaro, o quarto de Laura, o quarto do casal, a cabana na montanha, a cabana dos camponeses (Gennaro); o teatro, o palácio de Eleonora, o quarto dela, as ruas da cidade, os corredores e o pátio do castelo, o carro, a estalagem, o quarto alugado, a casa do casal Claudius e Eleonora, o quarto do casal (Claudius Hermann); o bilhar, o hotel, o quarto de Artur, fora da cidade, o sobrado da amante de Artur, a escada da casa, a porta de saída, a calçada na rua, o quarto da irmã (Johann).

Ambiente
É o conjunto de espaço acrescido de suas características socioeconômicas, morais, psicológicas, em que vivem os personagens. Em resumo, ambiente é um conceito que aproxima tempo e espaço, recheados de um clima.
Em Noite na Taverna, o ambiente é macabro, projeção dos conflitos vivenciados, ele reflete o pensamento mórbido e alucinado dos personagens. Todo o clima, como o tema, é noturno: histórias que e desenrolam na calada da noite, penumbra, melancolia, fumo, álcool, depressão e, por analogia, as características morais, religiosas e psicológicas traduzem o mesmo tom: são depravados, ébrios, assassino e boêmios. 

Narrador
O livro é, inicialmente, narrado em terceira pessoa, apresentando os personagens na taverna. Após essa introdução, passa a ser narrado em primeira pessoa, na qual cada personagem tece sua trama.

Conclusão 
Álvares de Azevedo revolveu delicadas feridas da sociedade brasileira da época e a afrontou tabus, e com isso - assim como em diversos outros pontos - ele seguiu as pegadas de Lord Byron - em cujas obras aparecem também traços não-conformistas e anti-sociais. Em Noite na Taverna não há justiça, probidade, remorso nem compaixão. Os rapazes na taverna, enquanto contam suas aventuras, são como anjos da morte e da destruição semeando a ruína e o desastre por onde passam. Sua postura é narcisista. Apenas buscam o prazer e a satisfação dos próprios desejos.
O texto não está construído de forma a incutir susto ou medo no leitor (como seria o caso na literatura de horror ou sobrenatural), mas antes, provocar o estranhamento e a repulsa. No entanto, uma das suas qualidades é, justamente, prender a atenção, página a página, através do emaranhado das situações descritas. Sem dúvida, as noites de vícios e devassidão narradas por Álvares de Azevedo, chamaram a atenção e chocaram o público leitor da década de 1850.
Noite na Taverna apresenta um mundo que não era o de Álvares de Azevedo, nem o de sua infância em família, nem o de sua mocidade e amadurecimento. Sua biografia deixa claro o tipo de valores nos quais ele foi criado: os da sólida e tradicional família brasileira, abastada, convencional e letrada. Orgias, a crueldade, a fealdade e os vícios de seus personagens em nada correspondem à realidade ou à vida do poeta. Somente o desejo de fuga da realidade explica tal escrito em que o amor é encarado pelo autor de maneira pervertida. Na vida real, nada mais era do que filho e irmão dedicado. Os sentimentos expostos em Noite na Taverna são puramente intelectuais.
Álvares de Azevedo inscreve sua obra na tradição do romance gótico. Pode-se avaliar como provenientes do romance gótico inglês, não apenas vários dos temas de Azevedo, como incesto e assassinato entre familiares, como ainda o gosto pelos incidentes sensacionais - raptos, fugas, aventuras em rápida sucessão, etc. Provavelmente, esses são elementos que foram injetados na poética de Álvares de Azevedo não apenas através de Hoffmann (Contos Fantásticos), mas também de Byron, de quem era assíduo leitor. O poeta inglês derramou pelo mundo uma mensagem de decadência e melancolia, erotismo e depravação, rebeldia e morbidez, que afinal alcançou e estudante paulista e toda uma geração brasileira. Os valores góticos fizeram de Noite na Taverna uma coletânea de brutalidades e perversões, cujas sementes são a descrença, o cinismo e o deboche. Em Azevedo, o recurso a elementos do romance gótico significa uma revolta contra a moral burguesa e sua rigidez de costumes. É, sem dúvida, uma produção noir. Antônio Cândido assinala:
(...) marcada pelo incesto, a necrofilia, o fratricídio, o canibalismo, a traição, o assassínio - cuja função para os românticos era mostrar os abismos virtuais e as desarmonias da nossa natureza, assim como a fragilidade das convenções. Associados a isto a modo de correlativo, a noite, a tempestade, o raio, o naufrágio, o tufão - constituindo o arsenal daquele belo sublime que podia costear o horrível, como indicam algumas páginas críticas de Álvares de Azevedo.
As histórias de Noite na Taverna são carregadas de fantasia. São homens devassos que se apaixonam por mulheres perdidas ou virgens misteriosas que terminam por perder-se. A sexualidade é sempre punida com a loucura e com a morte e o amor jamais se realiza plenamente. A atmosfera das cidades é corrompida e nebulosa, povoada de figuras fantasmagóricas. A imaginação romântica de Álvares de Azevedo marca de  forma exuberante os contos do livro, narrados num estilo repleto de adjetivos e reticências. Em síntese, Azevedo escreveu:
em tumulto, sem muito senso crítico; com traços de perversidade; demonstrando um cansaço precoce da vida; corporificando as várias tendências psíquicas de uma geração; com uma viva fantasia; apresentando características como egocentrismo, dualidade, auto-ironia, pessimismo e humor negro, ou seja, como um legítimo representante do ultra-romantismo.
Como escritor brilhante que foi e poeta original e talentoso, a qualidade de sua obra surpreende pela precocidade com que foi concebida. Seus textos refletem o ambiente de sua época, onde a literatura estava impregnada de pessimismo, ceticismo, morbidez e pressentimento da morte.

Referências Bibliográficas
AZEVEDO, Álvares de. A noite na taverna.  São Paulo: Ediouro, 19--.
A noite na taverna: contos phantasticos. Pelotas: C. Pinto, 19--.
BOSI, A. História concisa da literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 1994.
CÂNDIDO, A. Formação da literatura brasileira. Belo Horizonte: Itatiaia,1981. v.2.
CEREJA, William R.; MAGALHÃES, Thereza. Literatura brasileira. São Paulo: Atual, 1995.
GANCHO, C. Como analisar narrativas. São Paulo: Ática, 1995.
LUFT, Celso. Dicionário de literatura portuguesa e brasileira. Porto Alegre: Globo, 1979.
MOISÉS, Massaud. História da literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 1984.
Teoria da literatura . Coimbra: Almedina, 1968.
VILLAÇA, A. Álvares de Azevedo. São Paulo: Três, 1984.